Vereadores debatem soluções para prevenir tragédias como as do shopping Boulevard

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As repetidas ocorrências de suicídios em shoppings de Belém, principalmente no Boulevard, repercutiram na sessão desta segunda-feira (23) na Câmara Municipal de Belém. Os oradores concordaram em aprovar e encaminhar, através da Comissão de Saúde e Segurança Pública da CMB, um pedido de providências urgentes, para dificultar tentativas de autoimolação, semelhantes as já adotadas em outros estados, como instalação de redes de segurança nos vãos livres dos shoppings.

Na questão das causas que levaram pessoas a tirar a própria vida, vereadores lembraram que a Pandemia, inflação alta e desemprego são apontados por especialistas como prejudiciais à saúde mental da população, principalmente a mais jovem. Outros se referiram a problemas em família, como isolamento, excesso de facilidades e desagregação.

O vereador Pablo Farah (PL), primeiro a falar, classificou o aumento das ocorrências como problema de saúde pública. Ele anunciou a apresentação de uma recomendação aos proprietários do shopping Boulevard para adoção de medidas de segurança que dificultem o acesso aos vãos livres. “Acho que os proprietários de um estabelecimento por onde circulam diariamente milhões em dinheiro também devem ter senso de humanidade. Não podem ser omissos diante desse problema. Se vão gastar pra fazer isso, que gastem! Todo investimento em salvar vidas e produtivo”, afirmou.

Para Emerson Sampaio (PP), o Doca Boulevard se transformou em um “palco de terror”. Disse que testemunhou um suicídio naquele local, em 2017. “De lá para cá quantas pessoas tiraram suas vidas naquele espaço e nada foi feito até hoje?”, perguntou. Sampaio ponderou que as providências incluem medidas que dificultem os atos mas não devem se limitar a isso. “As pessoas já chegam nos shoppings com problemas. Temos de buscar as causas com os instrumentos públicos que temos. Acho que nossos CRAS, que dispõem de profissionais como assistentes sociais e psicólogos poderiam ajudar, ampliando o número de consultas, fazendo mutirões. Também é um problema de saúde”, apontou.

Lamentando o aumento da frequência de suicídios, Igor Andrade (SD) disse que esses atos colocam também outras vidas em risco. Segundo ele o Legislativo poderia solicitar a instalação de telas de proteção.

Juá Belém (Republicanos) aparteou Andrade chamando a atenção para as consequências enfrentadas também pelos trabalhadores do shopping, obrigados a cumprir expedientes de trabalho, sem nenhuma assistência psicológica, no local onde acabaram de presenciar um suicídio. Andrade concordou com o colega e lembrou de ter recebido relatos, no último sábado, de funcionários de lojas do Boulevard desesperados, fechando esses estabelecimentos por falta de condições emocionais de continuar a jornada após a última ocorrência de autoimolação.

Miguel Rodrigues (Podemos) abordou a questão da falta de segurança para os frequentadores do Boulevard na área de estacionamento do último andar. “Realmente dá medo. Imagino que deve ser pior para pessoas que tem problemas de fobia com altura”, completou. Destacou a importância de um posicionamento da Câmara Municipal de Belém na questão das tragédias que vem se repetindo naquele shopping.

Fabio Souza (PSB) recorreu a uma obra do cantor e compositor Renato Russo para interpretar a recorrência de tragédias no Boulevard Shopping. “O mal do século é a solidão”, citou para analisar a geração atual como detentora de vantagens tecnológicas e relações interpessoais precárias. “Temos a maldita rede mundial, que julga e dita comportamentos com os quais muitas vezes os jovens não conseguem lidar”. Souza também apontou o isolamento familiar como causa de traumas que podem acabar em tragédias. Aconselhou país e responsáveis por jovens e adolescentes a trocar “o excesso de zelo e de dinheiro por um bom papo”. Para ele, a juventude atual não sabe enfrentar frustrações.

A ampliação do quadro de psicólogos da rede municipal de Saúde foi a sugestão de Zeca do Barreiro (Avante) para amenizar o quadro da falta de saúde mental de parte da população. “Esse problema aumentou muito. Depois da chegada da Pandemia muita gente está precisando de tratamento. Não adianta só colocar rede de proteção nos shoppings. Se não for tratada, a pessoa disposta a se matar vai procurar outro lugar além dos shoppings”, afirmou.

O déficit de profissionais de psicologia também foi abordado por Lívia Duarte (PSOL). “Temos hoje um programa de saúde mental muito aquém do que o município precisa. Belém é uma cidade que adoeceu também durante a pandemia. E antes disso a estrutura de saúde mental já era muito precária”. A vereadora também chamou a atenção para a a inexistência de um programa de amparo a cuidadores. Ela concordou com Pablo Farah de que somente a instalação de redes de segurança não eliminará o problema dos suicídios em shoppings. Acompanhamento em saúde mental, conforme a vereadora deve fazer parte de um programa consistente, que envolva as unidades de saúde e escolas. Concluiu recomendando a visita de uma comissão da CMB ao shopping Boulevard.

Enfermeira Nazaré (PSOL) lembrou que denúncias e alertas sobre a ocorrência de suicídios em shoppings vêm sendo feitas há muito tempo. As soluções, segundo ela, não se resumem a redes de proteção, mas envolvem também providências relativas a outras áreas dos shoppings, como estacionamentos, capacitação dos funcionários e correção de erros de engenharia. Contudo, de acordo com a vereadora, a rede mais importante é a de proteção social. “Temos necessidade de mais psicólogos no atendimento na saúde pública”.

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