
A casa favorita projetada pelo arquiteto está situada na esquina da avenida Almirante Barroso com a travessa da Vileta
No dia a dia do belenense, não há como deixar de passar pela frente de ao menos uma das dezenas de belas casas que ele projetou e construiu na cidade nas décadas de 1950 e 60 para famílias abastadas.
No centro da capital paraense, por exemplo, na descida da José Malcher até alcançar a Assis de Vasconcelos, há (ou havia) uma série delas, entre as quais a que abrigou o célebre restaurante Lá em Casa. Ou na Presidente Pernambuco, onde há outra série de moradias, incluindo aquela em que ele residiu. A sua eleita, a preferida, no entanto, está distante da área central: fica na avenida Almirante Barroso, esquina com a travessa Vileta.
Perguntado sobre os fatores que o imóvel conjuga para que ele o elegesse como seu favorito, o arquiteto disse: “Porque o Belisário Dias, o primeiro proprietário, era meu colega desde o primário, tinha absoluta confiança em mim e me deu carta branca para fazer o que eu quisesse. Ele era diretor do antigo DER (Departamento de Estradas e Rodagem) e também me convidou para projetar o novo prédio do órgão, lá na Almirante Barroso, onde hoje é a Secretaria de Transporte. Ele foi assassinado e não chegou a morar um ano na casa”.

O edifício Dom Carlos ficou popularmente conhecido como o prédio dos Jetsons, a família futurista do desenho animado
O PRÉDIO FUTURISTA “DOS JETSONS”
Mas não foi só pelas magníficas residências projetadas que o arquiteto Camilo Porto de Oliveira – que semeou o modernismo arquitetônico em Belém – recebeu, em 2003, o título de Arquiteto do Século XX no Pará, concedido pelo Instituto de Arquitetura do Brasil. A glória honorífica chegava na estação outonal de Camilo Porto que, aos 80 anos, vivia de duas pequenas aposentadorias, depois de ter construído e dirigido uma das mais famosas boates de Belém, a Gemini, na mesma época de outra criação sua como empresário, o centro de estética Só Ela & Só Ele.
Saíram também da prancheta do arquiteto diversos prédios, com destaque para o Dom Carlos, cuja arquitetura, singularizada pela rampa de acesso, ocupa a esquina da Ó de Almeida com a Quintino Bocaiúva. À época de sua construção, chegou a ficar conhecido como o prédio do Flash Gordon ou da família futurista Os Jetsons. A sede social do Clube do Remo, na avenida Nazaré, e o prédio da Sudam, na Almirante Barroso, também são frutos de seu traço.
Em relação aos edifícios residenciais que projetou, Camilo apontou como seu favorito o Santa Lúcia, bem ao lado da sede social do Clube do Remo. E entre as repartições públicas, destacou a sede que fez para o DER (Departamento de Estradas e Rodagem), na Almirante Barroso, onde hoje funciona o Secretaria de Transporte do Estado.
Em relação aos prédios assinados por outros construtores, Camilo escolheu – do ponto de vista arquitetônico, histórico ou mesmo afetivo –, como de sua preferência, o prédio Costa Leite, onde hoje é a Secretaria de Estado de Indústria, Comércio e Mineração, bem na esquina da Praça da Sereia com a Caetano Rufino, próximo ao Cinema Olympia. A edificação foi projetada por Judah Levy, no final da década de 1930. Camilo disse que gostava muito do Costa Leite por ser “bem harmônico”. Também indicou o edifício Bern, em frente aos Correios, que esteve entre os primeiros prédios da cidade a superar o teto de três andares, altura máxima a que se alçava então a Belém vertical da época.
Ah, também votou no Atalanta, na Doca, “apesar de, pelo que me contaram, pois nunca entrei lá, se sai de uma sala passando pela outra, o que considero um defeito”.
O arquiteto Camilo Porto de Oliveira morreu no dia 23 de dezembro de 2005. Completaria 83 anos, em janeiro do ano seguinte.
Coordenação e textos: Elias Ribeiro Pinto