Augusto Meira Filho

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O ETERNO NAMORADO DE BELÉM

O ator Lúcio Mauro, nome artístico de Lúcio de Barros Barbalho (1927-2019), o irmão Laércio Wilson Barbalho (1918-2004), que fundaria o jornal Diário do Pará em 1982, e o engenheiro, historiador e então presidente da Câmara Municipal de Belém Augusto Meira Filho (1915-1980). A foto registra a entrega, no início dos anos 1970, de título honorífico a Lúcio Mauro, no prédio da CMB, quando esta ocupava as instalações do Palácio Antônio Lemos

Engenheiro, historiador, escritor, vereador, jornalista e – por fim mas não menos importante – poeta, Augusto Ebremar de Bastos Meira foi, como se pode perceber, um homem de múltiplas atividades. Essencialmente, foi um homem público, um sentimental, de “temperamento ciclo tímico, com altos e baixos”, como o descreveu, depois da morte, o irmão Clóvis Meira.

Filho do nordestino (do Rio Grande do Norte) José Augusto Meira Dantas – que chegou a senador da República depois de bacharel em Direito, iniciar-se como promotor público em Santarém, no governo Augusto Montenegro –, Augusto Meira Filho (adotou o “Filho” para homenagear o pai) foi, em primeiro lugar, um homem dedicado a Belém, onde veio à luz em 5 de agosto de 1915, e de onde partiu, definitivamente, a 8 de julho de 1980.

Presidente da Câmara Municipal de Belém, no período de 1971 a 1973, exerceu três mandatos como vereador. O seu nome, aliás, está fortemente vinculado a este Poder: o prédio que abriga a Câmara leva o nome de Palácio Augusto Meira Filho.

No dia 1º de fevereiro de 2011, a sessão solene de abertura dos trabalhos na Câmara foi antecedida pela inauguração de um Memorial em homenagem a Augusto Meira Filho. Ao descerrar a placa comemorativa, instalada no salão de entrada do prédio, o então presidente da Casa, Raimundo Castro, destacou que era uma honra para este poder eternizar a contribuição de Meira Filho, face aos importantes serviços prestados ao município. A distinção somou-se a uma homenagem anterior, o Brasão D’Armas, que o Legislativo Municipal atribuiu post-mortem, ao eminente historiador, que legou uma expressiva bibliografia sobre Belém.

DE BACAMARTE, SENTINELA DO VERDE

Augusto Meira Filho (agachado), criador da Sociedade Amigos de Belém e defensor das mangueiras, planta uma muda de árvore, no início da década de 1970. “A criatura que destrói uma árvore é despida de qualquer sentimento.” O primeiro à esquerda, em pé, é o então governador Fernando Guilhon

Sim, Augusto Meira Filho era “o namorado da cidade”. E igual a quase todo namorado, às vezes era possessivo. Impetuoso. Arrebatado.

Por conta desse amor, há diversos episódios em sua vida que, esmaecidos pelo tempo, a história vai tratando de colorir com as tintas da lenda, guardando-os no escaninho folclórico dos eventos urbanos.

Cultor das árvores, do verde e, em particular, defensor das mangueiras como tipo ideal para ser empregado na arborização de Belém (discordava dos que consideravam a mangueira, pelo seu tamanho, antiestética como arborização urbana; pelo contrário, achava-a ideal, “pois dá sombra e beleza à cidade”), foi convidado pelo então prefeito Stélio Maroja para planejar o replantio e restauração da Praça da República.

Na trincheira da batalha pela arborização, chegou a empunhar armas. É ele quem conta: “Certa vez, plantei uma árvore na Praça da República. Sabendo que iriam derrubá-la, saí às três horas da madrugada para o local, com o meu bacamarte, e lá me postei, de sentinela. Desta vez, ninguém se atreveu a derrubá-la”.

Aliás, a persistência seria sua aliada. Assim, teve de plantar, repetidas vezes, no mesmo local, uma árvore, pois esbarrou com inimigos também incansáveis em seu ofício predador: sempre destruíam a muda replantada em substituição à anterior, arrancada.

Mas o nosso paladino do verde bateu-os pelo cansaço. Na sétima tentativa de fazer vingar a plantinha, quando já desanimava, topou, na manhã seguinte, com a seguinte frase, escrita num papel de embrulho, amarrado ao frágil tronco: “Doutor, esta fica pela persistência”. Vitória da perseverança dos justos.

Para o doutor Meira, a criatura que “destrói uma árvore é despida de qualquer sentimento, é uma personalidade sem definição”. Quando se referia a “esses vândalos”, o enamorado deixava-se contagiar pelo ânimo radical: “Se eu pegasse uma pessoa dessas, amarrava-a na árvore e escrevia: ‘este depredava a natureza’”.

O HISTORIADOR DA CIDADE

O jornalista Augusto Meira Filho manteve, por vários anos, em A Província do Pará, “O Jornal Dominical”, ponta de lança na defesa do patrimônio histórico de Belém

Morto, o múltiplo Meira condensou-se como efígie de historiador de sua terra natal. Nesta área, seu trabalho mais significativo, entre mais de vinte obras publicadas, é o livro Evolução Histórica de Belém do Grão-Pará, editado em 1975. Em meio às dezenas de medalhas, diplomas e honrarias que lhe foram concedidas, um título, conferido pela Câmara Municipal, resume-lhe a biografia: o de “Historiador da Cidade”.

Produto desse ofício, além do livro já citado, destacam-se os volumes O Bissecular Palácio de Landi, Contribuição à História da Pintura na Província do Grão-Pará no Segundo Reinado, Landi, esse Desconhecido – o Naturalista e Pedro Teixeira, o Desbravador da Amazônia.

Como jornalista, manteve, por vários anos, em A Província do Pará, a página “O Jornal Dominical”, em que tratava de assuntos históricos e culturais, divulgando e defendendo o patrimônio histórico do Estado.

Pessoalmente, o “doutor Meira”, como o chamavam, era homem expansivo, alegre, de uma vitalidade radical. Entre os tantos testemunhos prestados por amigos quando da morte de Augusto Meira Filho, uma frase, que se repetia, e que bem lhe poderia fazer as vezes de lápide, define-lhe a trajetória: “Foi um grande amigo de Belém”. Melhor ainda: namorado. E dos fiéis.

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