O vereador Fernando Carneiro (PSOL) classificou como “tentativa de golpe” o pedido do PL, partido do presidente da República e candidato derrotado Jair Bolsonaro, de anular os votos de 279 mil urnas utilizadas nas eleições de outubro deste ano, “por coincidência as urnas onde Bolsonaro perdeu”, como frisou o psolista.
Para Carneiro, é óbvio que o pedido não tem embasamento técnico nem jurídico, mas serve para manter acesa a chama da inconformação de apoiadores do atual presidente que estão acampados em frente a alguns quarteis pedindo “ajuda” das Forças Armadas, mas alegando que está lutando pela ‘liberdade de expressão”. Para ele, iniciativas como a do PL e do ministro do Tribunal de Contas da União Augusto Nardes, que falou, em conversa com amigos do agronegócio, vazada nas redes sociais, em forte “movimentação na caserna”, não passam de fake news.
Carneiro desfiou uma série de postagens, algumas engraçadas pela proximidade do ridículo, nas redes sociais, dando conta de supostas “denúncias” contra as eleições brasileiras no “tribunal de Haia”, cuja relatora seria uma “juíza” que, na verdade era a cantora e atriz Lady Gaga, e as sucessivas datas marcadas por bolsonaristas para “mudar tudo”, anular eleições, prender o ministro Alexandre de Moraes e o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), botar as tropas e tanques das Forças Armadas nas ruas como garantia para a permanência de Jair Bolsonaro no cargo e outras pautas antidemocráticas semelhantes.
Finalizou manifestando seu repúdio a comportamentos irresponsáveis que, sob a bandeira da livre expressão, estão prejudicando pessoas individual e coletivamente. O vereador se referiu aos acampamentos de bolsonaristas em frente aos quarteis e bloqueios de algumas estradas por grupos de caminhoneiros como coisas que já foram engraçadas, já foram tristes, mas hoje são deprimentes. Enquanto isto, segundo o vereador, Jair Bolsonaro de mantém desaparecido e costura, nos bastidores, acordos que livrem a ele e aos filhos da prisão.
Matheus Cavalcante em pronunciamento posterior retomou o tema da “liberdade de expressão” afirmando que esse direito está sendo cerceado em nome da própria democracia. A segurança no processo eleitoral foi outro item abordado por Cavalcante, que defendeu a necessidade de aprimoramento do processo. Para ele, o sistema não passou por um aperfeiçoamento por causa de discordâncias políticas.
O debate prosseguiu no Horário das Lideranças com Carneiro assomando à tribuna novamente para reiterar sua defesa da liberdade de expressão, mas não de crimes cometidos em nome dela. A propósito da “intervenção militar disfarçada de intervenção federal”, segundo ele, pedida pelos acampados bolsonaristas, Carneiro lembrou que os poderes constituídos da República são apenas três: Executivo, Legislativo e Judiciário e que as Forças Armadas não são um poder, nem mesmo moderador. Para Carneiro, se os militares fizeram um relatório sobre o processo eleitoral “que o guardem para si porque não interessa a ninguém “. “Militares da ativa – enfatizou – são até mesmo proibidos de emitir opinião política”. Resumiu a questão dizendo que as Forcas Armadas são burocracia de estado e que devem obedecer aos poderes constituídos e não o contrário. “Militar é pra obedecer governo civil, cumprir suas funções constitucionais, defender as fronteiras, defender o país e não se meter em política”, destacou.
Falando em seguida, Josias Higino (Patriota) interpretou a manifestação de Carneiro como “desespero”. Ele disse que enquanto o colega do PSOL reservou todo seu tempo de fala a críticas a Jair Bolsonaro, nada disse sobre a administração de Belém, sobretudo do setor de saúde, cujas UPAs “estão abandonadas” e os prontos-socorros sem medicamentos. Ele também afirmou que Luiz Inácio Lula da Silva ainda não assumiu, mas “já quebrou o Brasil” e que apenas sindicatos estariam felizes com a vitória do petista porque poderão voltar a cobrar imposto sindical.
Matheus Cavalcante também voltou à tribuna para negar que a maioria dos acampados na frente dos quarteis esteja pedindo intervenção militar, o que é crime contra a democracia passível de prisão. Segundo Cavalcante os apoiadores bolsonaristas estão apenas “externando sua indignação com os atos discricionários do TSE e do STF de descondenar um criminoso”.
“A eleição acabou. Não vai ter terceiro turno”, disse Igor Andrade (SD). O orador fez um apanhado das investigações sobre a lisura do processo eleitoral, que não apontaram nenhuma irregularidade que pudesse abalar o resultado das eleições. “Então, que seja respeitada a democracia, empossados os eleitos e que a partir de 1⁰ de janeiro de 2023 possamos viver um novo momento nesse país, sem ódios nem rancores “, concluiu.