A greve de ônibus deflagrada em Belém, Ananindeua e Marituba pautou a linha dos pronunciamentos na sessão desta terça-feira (3) na Câmara Municipal de Belém. Subsidiar e aliviar impostos das empresas de ônibus ou abrir licitação das linhas para possibilitar a entrada de novos empresários foram sugestões apresentadas e debatidas pelos vereadores
Fabio Souza (PSB) disse que o problema do setor de transportes é uma equação complicada que inclui uma frota de ônibus sucateada, ruas sem condições de tráfego e valor de passagem que não satisfaz aos empresários pressionados pela alta dos combustíveis. Acrescentou que as capitais que têm serviço de transporte público digno, com ônibus novos e confortáveis, são ajudadas pelo poder público com subsídios. “É um trabalho de parceria entre o Executivo e a iniciativa privada”, avaliou.
Souza acha que além do subsídio as empresas de ônibus também deveriam ser desoneradas, isto é, deixariam de pagar determinados impostos ou taxas. “Ninguém bota uma empresa para funcionar sem visar lucro, mas essa empresa tem de servir a população com qualidade. Essa equação é simples. Vamos desonerar e vamos subsidiar, porque as grandes capitais do Brasil, como Curitiba, já fazem isso”, defendeu.
As decisões desse setor, na opinião de Fábio Souza, devem passar por um colegiado integrado pelos municípios da região metropolitana.
Para Roni Gás (PROS) a culpa pelos problemas do setor é dos empresários “que são incompetentes em suas gestões porque só buscam lucros milionários e não a melhoria dos transportes públicos”, segundo ele. Lembrando que greves de transporte público atingem diretamente milhares de trabalhadores e estudantes, Gás lamentou que a conta sobre sempre para a população.
“Os empresários buscam o lucro e eles têm esse lucro, porque se não tivessem os ônibus deles não estariam mais rodando na cidade. Donos de empresas de ônibus tem uma rentabilidade muito grande, reclamam de barriga cheia alegando que o valor da passagem não dá para manter a frota e nem para trocar os ônibus sucateados por novos”, observou o vereador, acrescentando que os empresários sempre conseguem o que querem: aumento nas passagens. “E a passagem já está em 4 reais, mas desse valor não abrem mão de nem um centavo em favor dos salários dos trabalhadores rodoviários, que têm direito a melhorias salariais”, expôs.
Roni Gás discordou de Fábio Souza na questão dos subsídios às empresas de ônibus. “Deveria ser o contrário. Ao invés de ganhar algo da prefeitura para lucrar na exploração das linhas, o empresário é que deveria oferecer algo a prefeitura para ter o direito de explorar e lucrar com essas linhas. A contrapartida dos empresários seria, no mínimo, um transporte público com qualidade. Pelo menos 30% de cada frota com ar-condicionado, ônibus limpos, em boas condições, com horários programados e cumpridos”, explicou. Para ele o problema começará a ser resolvido com nova licitação das linhas e outros empresários, mais comprometidos em servir à população, como concessionários.
A vereadora Enfermeira Nazaré (PSOL) abordou o tema dos transportes a partir de uma série de reportagens feita pela TV Liberal sobre o sistema de ônibus rápidos, o BRT. Ela destacou que as obras para instalação desse sistema em Belém já se arrastam há mais de 10 anos e consumiram até agora mais de meio bilhão de reais. “Aquele sonho de ter BRT para ter qualidade de vida infelizmente ainda é apenas sonho.
Nazaré lamentou que as empresas de ônibus estejam defendendo a extinção da categoria dos cobradores, cujo trabalho seria feito pelos motoristas. “Extinguir uma categoria seria relegar mais milhares de trabalhadores ao desemprego”
Josias Higino (Patriota), recordou seu trabalho como cobrador e motorista de ônibus por muitos anos para fundamentar sua opinião sobre o transporte público em Belém. “Não é de hoje que o empresariado reclama. Já há 25 anos, quando eu era cobrador, o empresariado alegava que estava no vermelho. Os donos de ônibus viajavam de Belém para Portugal como se fosse brincadeira, mas viviam se queixando de estar no vermelho. Quando chegava a data-base, hora de dar aumento para cobradores e motoristas, os empresários nunca tinham e nunca podiam”, lembrou.
O tsunami de problemas que atualmente cai sobre o sistema de transporte público, segundo Higino, há muito era previsto e não deve ser atribuído ao surgimento da Pandemia de Covid 19. “Isso aí é uma caixa preta antiga que veio explodir agora na mão do prefeito Edmilson”, apontou. Para o vereador, Executivo e Legislativo podem se unir para encontrar soluções que devem incluir obrigatoriamente aumento salarial para motoristas, cobradores, mecânicos, lanterneiros e demais rodoviários.
Em aparte, Juá Belém (Republicanos) disse que todos os setores envolvidos na questão do transporte urbano poderiam dialogar em busca de uma solução acima de interesses políticos.