“Hoje não há nada mais importante no Brasil que a solidariedade ativa ao povo do Rio Grande do Sul. Estamos falando de refugiados climáticos, termos novos, muito importantes, que entrarão agora em nosso vocabulário”, disse a vereadora Gizelle Freitas (PSOL), resumindo os pronunciamentos que se sucederam na tribuna da Câmara Municipal de Belém, nesta quarta-feira (8), em tons de solidariedade ao estado gaúcho e de alerta diante das condições climáticas de Belém, uma capital sujeita a chuvas fortes. “Qual é o plano municipal de combate ou mitigação dos desastres ambientes decorrentes da crise climática”, perguntou Freitas, fazendo questão de ressalvar que esse questionamento partia de uma parlamentar do PSOL, que integra a base de apoio do prefeito Edmilson Rodrigues no Legislativo.
O Rio Grande do Sul foi atingido, desde a semana passada, por fortes chuvas que resultaram em enchentes, submergindo cerca de 70% daquele estado. Segundo Gizelle Freitas é necessário discutir seriamente se Belém já está adaptada para possíveis fenômenos dos efeitos extremos da crise climática. “Porque o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, ignorou todas as previsões, de anos e anos, dos cientistas que afirmaram que aquele estado seria o epicentro dos efeitos extremos da crise climática no Brasil. O governador de lá tanto rejeitou e ignorou essas previsões que até destinou no orçamento de 2024, para a política de combate aos desastres ambientais, somente 0,02% dos recursos, o que resultou em apenas 50 mil reais para a defesa civil de todo aquele estado. Isto é uma barbaridade”, apontou a vereadora.
“Precisamos ter consciência de que os efeitos extremos da crise climática não são episódios isolados que acontecem somente em outros lugares, distantes de nós. Esta é uma realidade mundial que tem a ver, diretamente, com a forma como as grandes empresas e os países desenvolvidos atuam no meio ambiente e interferem na natureza, colocando o lucro acima das vidas. É sobre isso”, salientou Gizelle Freitas. Ela pediu urgência na apreciação e votação de projetos de lei de colegas vereadores que tratam de políticas ambientais, destacando os apresentados por Bia Caminha (PT) e Mauro Freitas (MDB). “Todos nós somos responsáveis, na posição de vereadores e vereadoras, por discutir, fiscalizar e cobrar medidas concretas de adaptação de Belém à emergência climática, do governador Helder Barbalho (MDB) e do prefeito de Belém, para que não venhamos a repetir a tragédia de Porto Alegre. A nossa cidade foi construída em cima de canais e isto em um estado que não tem a infraestrutura do Rio Grande do Sul. Imagine se algo daquela magnitude se abater sobre o nosso estado e nossa capital. Vai ser uma tragédia sem precedentes”, alertou.
Gizelle Freitas anunciou que seu gabinete, no prédio da CMB, semanalmente, de segunda a sexta-feira, funcionará como ponto de recebimento de coletas de doações, das 8h às 20h, assim como os 12 CRAS de Belém, que também estão funcionando como pontos de apoio. Fazendo eco à uma fala do colega Josias Higino (PSD), a vereadora enfatizou a importância de cada doação, por mais que o doador ache que sua oferta é pouco ou não tem muita importância.
A vereadora Enfermeira Nazaré (PSOL) disse que diante do quadro de alterações climáticas mundiais é preciso que as cidades se preparem para eventos como o que se abateu sobre a região metropolitana de Porto Alegre, com várias cidades parcialmente submersas, sem energia elétrica, sem agua potável e com acesso unicamente por barcos ou helicópteros, porque até o aeroporto da capital gaúcha foi atingido pela enchente do rio Guaíba. “Belém vai sediar a COP30 e aqui, entre outros problemas, lutamos com a questão do lixo. Cidades inteligentes devem saber como lidar com seus resíduos sólidos, através de reciclagem, reutilização, reaproveitamento e destinação. É preciso também atuar na questão da educação ambiental”, advertiu.
Josias Higino se disse emocionado com os esforços para salvamento de pessoas e animais. Ele também fez referência a uma denúncia da TV SBT de que caminhões transportando doações teriam sido multados pela Policia Rodoviária Federal por falta de nota fiscal. Essa notícia, como lembrou Higino, foi classificada como fake news no noticiário da TV Globo. Para Higino não seria hora de procurar culpados e nem de responsabilizar o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), que vem sendo acusado de destinar apenas 50 mil reais do orçamento estadual de 2024 para a defesa civil. Contudo, na opinião dele, o show da cantora Madonna, realizado no sábado (4), no Rio de Janeiro, deveria ter sido cancelado em solidariedade aos gaúchos.
Fernando Carneiro (PSOL) ponderou que, muito além do show de Madonna, a discussão sobre o tema deveria levar em conta fatores reais, como a combinação de elementos climáticos: uma zona de alta pressão na região central do Brasil, uma frente fria subindo do Sul e a umidade da Amazônia. “Isso formou o que os especialistas chamam de ‘tempestade perfeita’. Mas medidas preventivas e paliativas poderiam ter sido tomadas. Infelizmente nos eventos climáticos, como em outras situações graves, quem sofre mais é a população periférica, os mais pobres. O governador do Rio Grande do Sul teve acesso aquele estudo citado aqui pelo vereador Josias Higino. E o que ele fez? Absolutamente nada. É hora de solidariedade sim, mas também é hora de levantar os responsáveis pela omissão. Não podemos ser coniventes com a omissão de gestores públicos que poderiam ter atuado para prevenir ou mitigar os efeitos dessa ‘tempestade perfeita’ que estava prevista há muito tempo. E a Madonna não tem nada a ver com isso. Quem tem a ver é o gestor daquele estado”, esclareceu.
Texto: Socorro Gomes
Fotos: Renan Alvares/SERFO-DICOS