“É preciso uma medida contundente. Não tem mais como negociar com os shoppings”, disse o vereador Fábio Souza (sem partido), nesta terça-feira (30), ao falar sobre o suicídio ocorrido no shopping Boulevard no último dia 24. Souza lembrou que a Câmara Municipal de Belém já tratou deste tema, em maio do ano passado, e que, em reunião com responsáveis por esses estabelecimentos, foram definidas providências técnicas destinadas a desestimular tentativas de suicídio. Essas decisões, como lamentou o vereador, foram cumpridas apenas parcialmente.
O episódio do dia 24 foi mais um de uma sequência que já soma sete ocorrências. Souza apontou como facilitadores desses atos a negligência dos setores privado e publico, sobretudo a falta de providências eficazes por parte dos empresários, notadamente envolvendo intervenções de engenharia na arquitetura desses prédios, e o abandono de políticas públicas de saúde mental.
Na mesma linha de raciocínio, Emerson Sampaio (PP) chamou a atenção para o quadro deteriorado de saúde mental que, segundo ele, atinge o mundo inteiro, se alastrando através de doenças como a depressão. “É a doença do século. A depressão tem atingido números assustadores no mundo atualmente. Em Belém não tem sido diferente. Quantos casos de suicídio acontecem semanalmente e não são divulgados?”, perguntou.
“Lamentavelmente o shopping Boulevard se transformou nesse palco macabro”, salientou, acrescentando que vereadores, setor jurídico da CMB e Corpo de Bombeiros estão estudando juntos uma fórmula para que o Boulevard se adeque às exigências da realidade. “Talvez a arquitetura desse shopping seja convidativa para esses atos. Então são necessárias alterações físicas que retirem as características atrativas”, ponderou.
Sampaio alertou também para o fato de que quadros depressivos não são “frescura” e sim problemas sérios cujo primeiro atendimento deve acontecer dentro da família. Lamentou que em muitos casos a reação familiar se limite a conselhos baseados em clichês, como “vá ocupar sua mente” ou “vá procurar o que fazer”. Finalizou pregando a necessidade de funcionamento pleno das redes de proteção e acolhimento do município.
Fernando Carneiro (PSOL) relatou reunião do dia anterior com o grupo de trabalho criado para tratar desse problema, que inclui o Corpo de Bombeiros e a Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Pará. “Evidentemente não podemos responsabilizar o shopping pela condição de saúde mental da população”, ressalvou Carneiro, mas, como destacou, é necessário reconhecer o papel facilitador da arquitetura nesses casos. “A neuroarquitetura diz que a arquitetura precisa interagir com a sociedade, criando situações de conforto e evitando situações de risco. Fica evidente que a arquitetura desse shopping acaba, de maneira não intencional, favorecendo esse tipo de problema”, explicou.
Para ele, é inegável a necessidade de melhora e ampliação das redes de atendimento psicossociais mantidas pelo poder público, o que não exime o shopping da responsabilidade pela segurança dos usuários “a não ser que ele queira ficar marcado por essa imagem de palco de suicídios “, advertiu.
Gizelle Freitas (PSOL) informou que em dois shoppings, Boulevard e Castanheira, foram instaladas, por uma ONG de Benevides, “salas de acolhimento” com cinco assistentes sociais. Essas profissionais, segundo a vereadora, têm vínculos empregatícios bastante precarizados.